# Ninguém pergunta por mim

"É a ti que escrevo, a ti só, meu ami..., Decididamente o poder da solidão é maior que o poder do amor. O livre arbítrio é uma ficção. Consequência fatal (por muito paradoxal que isto te pareça). Há aqueles que sabem fingir tão bem. Quantas perguntas se levantam diante deles?
Há semanas que ninguém pergunta por mim. Tenho a sensação que vivo num mundo irreal por vezes embaraçante. Entregam-te ao vazio, a um lugar simples e vulgar, de ser mais um no meio da multidão. Poderá talvez revelar os propósitos incorrigíveis do amor? Dos corações pedra/carne? Da verdade? Foi o amor ou a interrogação – quem sou eu na vida? – que me levou à solidão, sem que na vida corresse risco – quem são os outros para mim?. Não sei em que dia começou – coisa odiosa para um homem da Beira Interior. Começo a senti-la intensamente agora, uma nítida vontade de nada e de não estar ou esperar, irrito-me e amuo. Todos eles passam despercebidos àqueles que me cercam diariamente. Não importa. Tudo isto terminará em breves dias. Tudo termina em breves dias, dizem, meu ami... “Nenhum Homem é uma ilha.” Sempre fui dizendo que se lembrassem dos outros aos outros, até com aplausos, «sem que me sejam regateados louvores». Há passos que são frágeis e não se distinguem por uma vida apaixonante, profissional, ou por nada... A solidão é um jardim que só nós conhecemos e que teima em crescer dentro do peito aos bocadinhos, aquela dor que pica, aquele braço dormente e a ciência já não nos diz assim tanta coisa. É assim a solidão: conversas que sempre se repetem e no fim tudo acaba, meu ami. Abraço..."

Amaro Figueiredo





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