# A dor que me provocas é uma lição que me dás

"Eu só queria que me quisesses. Só queria que me quisesses tanto como eu te quero a ti. Só queria que sentisses tanto a minha falta como eu sinto a tua. Quisesses o mesmo que eu e nós seríamos tudo. Quisesses um bocadinho que seja menos do que eu e nós seríamos nada. Onde estás agora se é aqui onde pertences? Porque escolhes um abraço frio e deixas o meu vazio? Deixa-me dar-te o que mais ninguém conseguiu. O que mais ninguém soube. Olha para mim. Estou aqui. Estive sempre aqui à espera que me visses. 
À espera que deixasses de olhar para quem não te olha. E tu sabes onde estou, sabes que quero que estejas onde estou, sabes que te posso dar o que mais ninguém dá e sabes que te quero aqui neste momento, agora e já. Pensar em ti, ver-te, querer-te ou imaginar-te são formas diferentes de dor por não te ter. E a dor é tudo o que nos une. A dor do que podia ser e não é. Mas a culpa é minha. É minha porque eu deixei. É minha porque eu não evitei. É minha porque eu também quis. Nós os dois quisemos e quisemo-nos. E nós os dois ainda nos queremos. A única diferença é que talvez queremos com intensidades diferentes. Eu sou quem mais perde porque sou quem mais quer. No entanto, sem querer nada se tem, a não ser por sorte. Mas a sorte é demasiado incerta para uma pessoa tão certa como eu. E entre todas as minhas certezas vive a certeza de que quanto maior for a vontade menos o conseguir depende da sorte. Só ainda não fui capaz de preencher ou disfarçar, com toda esta minha segurança, o buraco que a tua ausência insiste em escavar no meu peito. É uma falta profunda que me atravessa de um lado ao outro como se fosse um saco de dor cheio de nada. Isto faz-me perceber o quão frágil sou sem a pessoa que mais quero. É como se fosse um avião de papel a tentar voar à chuva. Uma chuva feita de lágrimas e frases interrompidas. Querer-te muito é uma das minhas muitas certezas, mas não vou morrer nem enlouquecer se nunca te chegar a ter. Nem sequer me vou permitir andar por aí a chorar pelos cantos. Sofro, claro. Choro, claro. Mas também é claro que nenhum amor justificará a minha ruína. Por mais frágil que seja o papel em que me desenho, não há chuva que o destrua. Já sabes que te irei receber com um sorriso do tamanho do mundo se perceberes que é ao meu lado que pertences, mas também espero que saibas que por mais que me doa a tua distância eu não vou perder a minha calma e o meu equilíbrio. Tenho bem presente na minha mente a pessoa de quem mais depende a minha felicidade sou eu. E por isso estou em paz comigo, mesmo no meio de um turbilhão de emoções eu estou em paz com aquilo que sou e quero. Este é o meu balão de oxigénio quando as lágrimas tentam, a todo o custo, afogar-me a esperança. Faças as escolhas que fizeres, só te peço que elas nunca sejam em função das minhas vontades. Nunca te iria aceitar ao meu lado só porque eu quero. Só porque eu quero muito. Mas porque tu queres tanto quanto eu. Neste momento a tua escolha é não me escolher eu já fiz tudo o que tinha de fazer. Não há parte nenhuma de um futuro que nos envolva os dois que dependa mais de mim. Resta-me somente assistir a um filme que teima em não começar. A vida é repleta de de inícios preguiçosos e fins desajeitados que nos obrigam a esperar e a desiludir uma infinidade de vezes até percebermos finalmente que o durante é que que conta. E enquanto esse durante não começa eu vou seguindo  viagem sem deixar de acreditar que em alguma paragem tu hás de entrar. Quem sabe nesse dia eu já não sinta a tua falta. Quem sabe nesse dia já não me doas como hoje. Aprendi a ver a dor como uma lição em vez de um castigo, e pode ser que tudo o que me tens ensinado sem querer me ajude a querer-te cada vez menos."


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